Nos últimos tempos eu ando tão monotemática quanto um TCC. Não penso, não leio, não escrevo e não falo nada além do assunto eleição, campanha, pesquisa, vermelho, primeiro turno, voto consciente e não para por aí. Claro, é o acontecimento mais importante dos últimos anos, então não tem como ser muito diferente disso. Quem me lê e não gosta do assunto, deve estar rezando para esse período passar logo e eu voltar a falar sobre todas as outras coisas cotidianas da vida, quem está no mesmo ritmo que eu, provavelmente espera sempre o próximo texto do qual talvez vá se identificar, ou pelo menos sentir que mais gente ao seu redor olha para o mesmo lado do mundo, e quem não gosta do meu posicionamento político, bem, talvez esteja por aí fazendo arminha com as mãos. Eu reivindico todo o tempo que dediquei a limpar a sujeira que deixaram no meu caminho, todos os textos e poemas que deixei pela metade, porque meu senso criativo esteve bloqueado por muito tempo. Só sei que calada não fico. Para onde é que eu vou direcionar tanta energia se não puder compartilhar com o mundo todos os meus medos, revoltas, indignações e esperança? Guardar tudo pra mim cansa demais a minha beleza e agora que estou prestes a voltar a sentir as pequenas alegrias diárias de uma cidadania normal, preocupada com situações triviais e comuns de qualquer sociedade civilizada, eu só vejo tudo vermelho na minha frente. Estou pronta e disposta a viver o superlativo de uma vida renovada e cheia de perspectivas.
Minhas roupas vermelhas não estão dando conta. Acessórios, esmalte, um batom vermelho que esses dias encontrei no fundo do armário e fazia tempo que não usava, nem ousei olhar a validade, não sai dos meus lábios. Há algumas semanas eu fui escolher uma tinta para a parede da sala e quase comprei a “rosa-vermelha”, mas achei que ficaria forte demais no ambiente e me controlei dessa vez. Imagine você que eu pendurei uma toalha na minha varanda, como se fosse uma bandeira. Posicionamento é tudo, quando ficar em cima do muro é sempre uma opção um pouco confortável para tantos. Essa noite eu sonhei com urna eletrônica, coisa mais exaustiva. Eu estava indo votar e quando cheguei na cabine, esquecia totalmente como usar aquela máquina e todos os números dos meus candidatos. Ficava desesperada porque nenhuma tecla funcionava e eu não sabia mexer e tinha que ler muito rápido um manual de instruções que ficava ao lado dela. Acordei em desespero com um “ai, meu deus!”, e demorei a processar que ainda não tinha chegado o dia mais esperado do ano.
Pelo dia inteiro o meu olhar desvia a atenção para o vermelho, encarnado, escarlate, magenta, rubro, carmim; o pôr-do-sol consegue ficar ainda mais bonito quando aquele coral acobreado toma conta do céu e me rouba as palavras por uns minutos. Este é o meu delírio cotidiano. Quando eu não estou falando sobre o assunto, estou torcendo para alguém começar a falar sobre isso comigo. Tiro uma foto, faço um L com as mãos, ouço uma música, faço paródia sobre um candidato. Esse otimismo às vezes cansa, a voz de vez em quando falha, e alguns silêncios inesperados chegam a doer nos ouvidos, mas todo esse amor reprimido, esse grito contido e todo o samba no escuro dos últimos tempos precisam explodir as nossas retinas, reverberar pelas ruas, reaproximar as pessoas. Apesar de tudo, amanhã há de ser outro dia e a gente há de perguntar onde eles vão se esconder da enorme euforia, porque todo esse nosso sofrimento será cobrado com juros, eu juro, e eles pagarão dobrado cada lágrima rolada no nosso penar. Adoro o som da decadência – deles – amanhã há de ser outro dia, será vermelho, e dessa vez, não será de sangue.
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