Eu preciso de um planner. E de protetor solar. Um jeans novo, uma camisa de botão branca que vi no brechó online. Preciso amolar meu alicate, fazer as unhas, cortar as do pé, aparar as pontas do cabelo, fazer umas luzes, ir ao oftalmologista, trocar os óculos, levar os exames para a ginecologista olhar, marcar dentista, comprar corretivo e base e um sabonete líquido para o rosto que está em promoção na Amazon. Eu preciso ir à praia, tomar água de coco e uma cerveja com churrasquinho. Preciso atualizar as minhas séries, ver alguns filmes da lista que nunca termina, decidir se renovo ou não o meu (ou será “a minha?”) Globoplay, fazer a lista dos livros lidos esse ano, comprar livros novos. Eu quero livros novos. Eu preciso arrumar o jardim, podar a begônia, a babosa e a buganvília, e todas elas começando com a letra “b” foi uma grande coincidência, receber alguns amigos na casa nova, comprar discos, ir no sebo. Eu preciso de um martelo, daquelas fitas que colam tudo na parede, pintar as paredes da varanda, pedir umas mudas de planta na vizinha, comprar outras que vi vendendo na outra rua, ir na costureira, lavar a cortina do meu quarto, comprar um tapete para o banheiro. Preciso de novos lençóis com elástico para meu colchão, de uma air fryer e um aspirador de pó. Preciso renovar a matrícula na faculdade, pagar mensalidades atrasadas, fechar trabalhos pendentes, enviar os ajustes do livro para a editora, falar com Bruno sobre a produção do podcast, voltar a publicar a newsletter, testar umas receitas que vi na Rita Lobo, comprar shimeji, temperos, as frutas da semana, fazer uma geleia de pimenta que aprendi com uma amiga, comprar abacate para fazer guacamole. Eu preciso de calcinhas novas, sutiãs também, lavar com o escovão as minhas sandálias Havaianas, procurar uma bolsa nova de praia, escolher os livros de Natal do meu filho e meu marido, pesquisar umas promoções de vinho, comprar vinho, beber vinho. Eu preciso inaugurar a churrasqueira que compramos já faz mais de um ano e continua lacrada na caixa, fazer um churrasco comemorando a mudança de casa, o lançamento do livro, a bolsa do projeto de pesquisa, a vida, o amor, nós três e nossos imensos detalhes de cotidianos. Eu preciso voltar com as minhas leituras atrasadas, fazer o planejamento do próximo ano, fazer uma retrospectiva desse, enviar um presente para a minha amiga de Salvador, tentar fazer um painel de macramê que vi no Pinterest, colocar um pendente de luz no meu quarto, enviar um poema meu para um concurso, começar a divulgar o meu livro novo, fazer vídeo, foto, legenda, poema do poema. Eu preciso responder à Maria no whatsapp, mandar mensagem para Lena, escolher uma roupa para ficar na sala, no Natal, enviar uma mensagem para os meus avós, tomar um café com minha melhor amiga low profile, pagar uma aposta, comprar uma capa de plástico para proteger da maresia a máquina de lavar, trocar a lixeira da cozinha e as bocas enferrujadas do fogão. Eu preciso de cola instantânea, alguns bastões de cola quente, corda, sisal, tinta para tecido, fazer artesanato, tirar manchas das almofadas, chamar o cara que lava estofados, imprimir umas fotos, comprar mais porta-retratos, renovar a assinatura da Suplemento Pernambuco, uma nova capa para o meu Kindle, atualizar o feed do instagram, liberar o meu filho para usar o instagram. Preciso passar algumas horas admirando a lua cheia, tomar um café no jardim de casa, ouvir mais Gal Costa para matar a saudade, voltar a praticar yoga – pela quarta vez só neste ano – e alongar mais o pescoço, não esquecer de tomar os remédios de pressão, comprar um tênis para começar a caminhar na praia. Eu ia falar “começar a correr na praia”, mas achei um pouco ousado para uma jovem senhora sedentária como eu, então, preciso de um tênis novo para começar caminhando, pelo menos. Preciso fazer as resoluções de ano novo, mas não gosto muito de fazer isso, então, talvez eu vá deixando para depois, até não valer mais como uma resolução de ano novo e ficar tudo numa boa como sempre, preciso dançar debaixo do sol, com o corpo salgado da praia, me secar depois do banho no chuveirão, assistir mais uma vez à Amélie Poulain, e o documentário do Tim Maia, e o último show da carreira de Milton Nascimento, pela terceira vez, talvez, e chorar como se fosse a primeira. Eu preciso dormir mais cedo, comer mais vegetais, me pesar, recuperar os três quilos que perdi depois de alguns dias de crise de ansiedade, terminar as provas, maratonar uma série de Natal na Netflix. Preciso dar um mergulho no mar. E só faltam 17 dias.
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