Eu não sei como você consegue. Você consegue mesmo? Por favor, me diga que também não, porque hoje estou cansada demais para me sentir sozinha e trôpega, encarando o meu celular.
Ainda não aprendi a lidar com a demanda exagerada da vida online, o turbilhão de notificações e o excesso de mensagens. Não sei como dar conta dos assuntos de família, amigos, trabalho e aquelas horinhas ociosas que os olhos insistem em ficar colados nas telas, pra lá e pra cá, com o whatsapp, direct do instagram, resposta às respostas do twitter e minha caixa de e-mail.
No palco da vida moderna, a minha própria vida parece ficar sempre escanteada, sem holofotes, longe do centro de tudo. Eu tento acompanhar, juro. Me diga, sinceramente, como você faz com a culpa de não dar conta de toda a vida online? Ou sou eu a ineficiente?
Se a gente vive constantemente à espera da próxima notificação, da novidade da vez, do próximo publi, ou dos novos desejos que pensamos nascer em nós do nada, o que sobre depois do fim? Essa ideia utilitarista de tudo me leva a crer que a nossa culpa se torna também uma mercadoria, e a ironia disso tudo é que, embora nossos dispositivos tenham sido projetados para nos aproximar, muitas vezes eu me encontro olhando para o vazio dessa dança entre mensagens, alimentando uma culpa que não deveria estar sentada em meu colo.
Enquanto o mundo digital se move em uma velocidade frenética, num canto silencioso do meu cotidiano, onde o tempo se equilibra entre correntes de algoritmos e pixels, e um cafezinho no fim da tarde, há uma característica que se revela sem que eu consiga dimensionar de forma consciente: a ausência de resposta aos meus amigos e familiares devido ao excesso de demandas de informações e mensagens. Este enigma, para mim, embora aparentemente banal, lança sombras nas minhas relações que, tempos atrás, talvez menos digitais, eram mais apuradas.
De maneira mais concreta, para existir, muitas vezes eu preciso desaparecer, mas é difícil me esconder por trás dessa nuvem de dados e números. E eu já sinto os reflexos da minha inabilidade emocional que tantas vezes me impede de sair atualizando notificação por notificação. Nesse labirinto digital, tudo o que eu posso fazer é lembrar que tenho o poder de moldar a minha relação com a tecnologia, e que preciso parar de calcular o tempo invisível das mensagens não respondidas.
Me recuso a incluir os meus amigos nas bolhas dos aplicativos de mensagens, com os pequenos círculos com iniciais ou fotos que piscam com promessas de conexão e compartilhamento, como um lembrete do meu fracasso em lidar com o curso das conversas que vão chegando aos poucos e se avolumando nos caches do meu celular.
A dança das mensagens na tela salta aos meus olhos, mas a luz azul anda ofuscando a minha capacidade de enxergar os entremeios das conversas comuns, que seriam ainda mais interessante se acontecessem em uma roda de amigos, na mesa do bar, com um caldinho de feijão e um copo de cerveja para acompanhar, mas o tempo anda insuficiente até para essas pequenas coisas.
Mas que maneira mais descabida essa de que, para estar sempre online, estou de alguma forma perdoada por não estar sempre presente. De onde vem a absolvição? Eu preciso me livrar da auto indulgência e dessa necessidade de estar sempre me justificando por não ter chegado a tempo naquela janela virtual.
A preocupação por não responder a todos imediatamente se infiltra na minha consciência e mexe com a minha tentativa de equilibrar o desejo de conexão com a realidade, suspendendo as respostas ao espaço digital, me culpando e me culpando. Eternamente na corda bamba dessa falsa disponibilidade.
No fim das contas, a vida é um grande delírio que se alterna em pequenos momentos de lucidez. A gente só tenta sobreviver de maneiras diferentes à nossa própria loucura. E tudo isso é só pra dizer: meus amigos, me perdoem a ausência digital.
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