Nycole Melo
O atraso de um ano e nove meses na obra do “Renasce Salgadinho” tem gerado transtornos para moradores do bairro do Poço e regiões circunvizinhas. Os buracos abertos para instalação de tubulações coletoras dificultam o trânsito da cidade, causando congestionamentos.
Além disso, a promessa de revitalização do Salgadinho não é novidade. Por mais de três décadas, candidatos políticos se comprometem a despoluir o riacho, mas até agora nada foi feito. Especialistas afirmam que o projeto “Renasce Salgadinho” é mais uma medida paliativa, que não resolverá o problema de fundo.
Segundo as análises do Dr. Dilson Batista Ferreira, especialista em Energia, Meio Ambiente e com mestrado em Sustentabilidade, o projeto “Renasce Salgadinho” não é suficiente para solucionar a questão da poluição no riacho.
Batista também argumenta que a iniciativa não aborda integralmente o sistema de esgoto e drenagem que permeia a vasta bacia do Vale do Reginaldo, que possui uma extensão de 27 km² e corresponde a 5,30% da área total do município de Maceió.
“O projeto apresentado é baseado em elevatórias desviando esgotos de riachos para essas estações para o emissário submarino da BRK, não resolvendo o problema de saneamento da massa urbana da bacia e da malha urbana”, declarou Dilson.
Uma outra crítica feita pelo pesquisador diz respeito à decisão da prefeitura de canalizar os riachos que deságuam no Salgadinho com concreto, uma escolha que vai de desencontro à recomendação dos especialistas na área, que sugerem a naturalização desses riachos.
“A escolha vai na contramão do que o mundo inteiro faz, que é naturalizar esses riachos, recompor nascentes e promover plantios de matas ciliares. Aqui estão canalizando riachos com concreto. Em suma, é um projeto de início da revitalização, uma ação paliativa, pois não trata o problema de forma integrada e abrangente”, reforçou o doutor em meio ambiente.
GASTANÇA
O recurso previsto para o projeto Salgadinho é estimado em mais de R$77 milhões. Segundo o professor, com o atual ritmo de progresso, a obra provavelmente não será concluída antes de 2025.
No entanto, ele acredita que inaugurações em fases possam ser realizadas durante a pré-campanha para a reeleição do prefeito JHC.
GINCANA MASSA
Paralelamente a essa aparente demora, a administração promoveu recentemente gincanas ambientais em duas escolas situadas na área de influência da obra. Com uma ampla divulgação na mídia e nas redes sociais, o projeto parece estar avançando muito bem, apesar das opiniões contrárias dos especialistas e técnicos.
TERÁ BANHO NO SALGADINHO?
Há 23 anos, a então prefeita da capital de Alagoas, Kátia Born, tomou um banho no riacho Salgadinho como parte de uma campanha para sua reeleição. No entanto, o resultado foi exatamente o oposto do que se esperava, já que essa iniciativa acabou resultando em duas ações judiciais sendo movidas contra a candidata.
Em comparação com a tentativa de revitalização durante a gestão de Kátia e JHC, conforme as palavras do Dr. Dilson Batista, o projeto é praticamente o mesmo, com a diferença sendo as estações elevatórias que bombeiam para o emissário e a melhoria na urbanização das vias da região com uma área de abrangência maior.
“Uma coisa que não foi realizada no projeto da prefeita Kátia Born foi a supressão de árvores. O Renasce Salgadinho removeu quilômetros de árvores do riacho, muitas delas plantadas há 50 anos, especialmente na região do poço”, concluiu Batista.
