Maria Clara Gomes*
Quadra sem teto, salas alagadas e sem ventilação, esgoto nos corredores e crianças passando mal pelo calor. Esses são apenas alguns exemplos da situação precária em que os estudantes e profissionais são expostos todos os dias na Escola Municipal Paulo Henrique Costa Bandeira, localizada no bairro do Benedito Bentes.
“A gente acredita que a escola tem que ser um lugar com segurança e conforto, né? As crianças amam aqui, elas gostam muito, mas com todas essas crises que estamos passando fica difícil. É muito triste”, expressou Thaynara Santos, representante dos pais no conselho escolar.
A escola, que atende cerca de 800 alunos, precisou diminuir a quantidade de turmas no ano de 2023 devido a insalubridade do local. Quando chove, o esgoto sobe e transborda pelos ralos dos corredores, fazendo com que a água com dejetos entre nas salas de aula situadas atrás do pátio da instituição.
Uma das salas em pior situação é usada para prestar suporte a alunos com deficiência. Além do chão manchado – demonstrando a frequência com que a água entra no local -, o forte cheiro e calor também são constantes.
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“A sala de suporte é essa nos fundos. Tem uma caixa de esgoto que esborra quando chove e, por falta de ventilação, fica um odor muito forte, sem condições de trabalhar com nenhuma criança aqui, sendo ela com deficiência ou não”, explica a representante do conselho escolar que é mãe de uma aluna PcD.
Em 30 de dezembro de 2022, a escola encaminhou um ofício à SEMED informando a necessidade de interdição do local.
“A situação do esgoto não é esporádica, é constante. Sendo assim se faz necessário essa medida para o ano letivo de 2023. Queremos, também, informar que essas salas, além dessa situação, são extremamente pequenas para a utilização pedagógica”, explica trecho do documento.
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Em meio às denúncias do encanamento precário, a fiação também se transforma em ameaça. Vários bebedouros precisaram ser desativados pois estavam dando choque em quem tentasse usá-los para se hidratar. Os que ainda funcionam, possuem torneiras quebradas.
AS ‘SAUNAS’ DE AULA
“Toca na parede. Viu? Aqui é tão quente que nós chamamos de ‘saunas de aula’. O sol bate direto, não tem quem aguente”, diz um dos professores.
As crianças passam mal com o calor. São espaços que possuem poucas janelas; os ventiladores que não estão quebrados, não possuem grade de proteção. Em muitas salas, apenas o bocal na parede deixa visível que deveria ter algum equipamento de ventilação ali. Os ar condicionados não funcionam – e os que funcionam não têm potência para resfriar nada.
Quando os alunos foram questionados sobre a temperatura, um deles respondeu que é um “calor da bixiga”.
São espaços mal projetados. Mesmo nas salas maiores, o sol é tanto que a ventilação não consegue resfriar o ar. Uma funcionária que pediu para não ser identificada explica que os trabalhadores da instituição fazem o que podem para mantê-la funcionando.
“É quente e apertado, não tem como uma criança aguentar um calor desse, numa sala pequena dessa. E a culpa é da diretoria? Não é. Porque nós estamos aqui trabalhando, né? A gente está aqui todos os dias. Passando por vários problemas”.
O problema da água mistura-se com o calor extremo e as aulas são canceladas com frequência, situação essa que prejudica o calendário escolar dos estudantes. Assim, para não atrasar ainda mais o término do ano letivo, os profissionais optam por diminuir a carga horária, ministrando as disciplinas e liberando os alunos mais cedo.
“A gente já não tem mais como cancelar, porque já afetou demais o nosso calendário. Estamos terminando o ano de 2023 agora, no fim de janeiro. Então, nós diminuímos a carga horária das aulas ou colocamos eles para fazer alguma atividade lúdica”, disse.
Em outro documento enviado pela escola, há o pedido do conserto dos ar condicionados da secretaria e de outras duas salas. Segundo o texto, a temperatura é tão alta que alguns professores precisam realizar as aulas no pátio.
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FALTA SEGURANÇA
Além dos problemas mencionados, uma outra questão também preocupa pais e funcionários: diversas portas da instituição não possuem trancas.
“A estrutura da escola sempre está comprometida com algo, é só ver as portas. Elas não são seguras. A maioria não tem fechadura e as que têm, não possuem trincos. Por falta dessa segurança, precisaram aumentar o cuidado no portão principal. Colocaram mais grades para tentar diminuir ao máximo a possibilidade de um ladrão entrar”, reclamou Thaynara Santos, representante dos pais no conselho escolar.
GINÁSIO SEM TETO
Após o telhado de metal da escola ficar danificado, a direção realizou diversos pedidos por reparos, no entanto não foram atendidos. Devido a forte ventania, uma das telhas caiu na pista e quase atingiu um motoqueiro que passava pelo local.
Um dos ofícios, enviado em 27 de setembro de 2023, solicitava à Secretaria Municipal de Educação (SEMED), órgão administrado pela Prefeitura de Maceió, reparos urgentes para que uma fatalidade não viesse a acontecer.
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Segundo a funcionária, diversas denúncias foram feitas, mas só depois que a população aderiu aos pedidos – tendo em vista que as telhas representavam um perigo para quem passava pela localidade -, a Secretaria enviou uma equipe até a escola.
“Eles disseram que tudo seria resolvido o mais rápido possível, mas na verdade só foi feita a retirada do teto. E assim, enquanto nós da escola reclamamos, ninguém ouvia, foi preciso o pessoal de fora ser prejudicado para que a SEMED fizesse alguma coisa”, disse.
Até a publicação da reportagem a quadra continuava sem telhado.
Com a falta das telhas, a quadra de esportes fica exposta a sol e chuva, impossibilitando o uso do local pelos alunos. O calor intenso também fez com que os jogos internos fossem cancelados. O professor de educação física precisa administrar as aulas no pátio da escola, o segundo maior espaço aberto, ficando atrás apenas do próprio ginásio.
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Próximo do local das aulas de E.F. há uma cisterna sem cadeado e protegida apenas por uma tampa que pode ser levantada por qualquer pessoa. Ela fica entreaberta pois os canos que levam a água até a caixa d’água da escola passam pela abertura.
“Por conta desses perigos, nós realizamos o recreio com jogos e outras brincadeiras dentro da sala. Eles sobem com a merenda e depois descem para devolver o recipiente do lanche”, disse a funcionária.
“A gente precisa ter muita paciência. Quando finalmente aparecem para resolver, depois de toda a demora, eles não resolvem o problema onde tem que ser resolvido. Eles fazem tudo mais ou menos e entregam pra gente, é um serviço mal feito”, explicou a representante dos pais.
O jornal Folha de Alagoas procurou a Secretaria Municipal de Educação (SEMED), mas não obteve resposta.
/Estagiária com supervisão