Maria Clara Gomes*
Durante o 1° Seminário da Judicialização da Saúde Suplementar realizado pelo hospital Unimed Maceió, na última sexta-feira (2), com a presença de juristas e médicos para discutir o tratamento de crianças neurodivergentes pela instituição, pais e responsáveis realizaram um ato contra a redução na cobertura de atendimento de jovens com transtorno do espectro autista (TEA).
Em frente ao Hotel Ritz Lagoa da Anta, local onde se deu a convenção, responsáveis empunharam cartazes com dizeres como “autistas não são brinquedos adaptáveis”, enquanto afirmavam em microfones que o evento realizado pelo hospital teria se dado com o objetivo de intimidar os pais a partir da exibição do corpo jurídico da concessionária.
De acordo com Andreia Melo, uma das mães presentes no ato, os responsáveis pelas crianças não foram convidados a participar da discussão que muda os rumos do tratamento de seus filhos.
“A Unimed criou um evento onde eles chamam o judiciário, advogados, tem uma lista enorme de pessoas, mas em nenhum momento convidaram os terapeutas, que são aqueles em contato direto com os jovens e que deveriam estar presentes no momento. Terapeutas e nem as mães, na verdade. Lá não tem ninguém para representar as famílias. É muito estranho tudo isso”, criticou.
Quando questionada sobre a exclusão dos pais da discussão, a rede de hospitais foi taxativa ao afirmar que, na ocasião, não havia interesse em ouvi-los. Acrescentando ainda que, se desejassem, organizariam uma reunião exclusivamente com os responsáveis pelas crianças.
Em publicação nas redes sociais, uma das advogadas presentes no evento escreveu “pensei que seria um momento de mais aprendizado, mas me deparei com um evento (…) onde só houve preocupação com o aumento da judicialização e o bolso dos planos de saúde”, e acrescentou, “perspectivas sob o ponto de vista do paciente em momento algum foi abordado, havendo falas absurdas sobre os tratamentos para o TEA”.
As falas “absurdas” apontadas pela profissional foram feitas por um médico de São Paulo convidado pela concessionária para tentar dar credibilidade à decisão de interrupção de diversos convênios com clínicas especializadas e redução na cobertura no tratamento de crianças autistas. Em suas redes sociais, o neurologista afirma que o excesso de horas de terapias para autismo durante a infância estão associados a maior risco de suicídio na fase adulta.
Pensamento que vai contra a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) que ressalta que o tratamento reduz as dificuldades de comunicação e comportamento social, o que traz impacto positivo no bem-estar e qualidade de vida não apenas para as pessoas com TEA, como também para seus cuidadores.
Unimed descredencia hospitais
Desde o início deste ano, a Unimed Nacional (CNU) descredenciou mais de 35 hospitais no Brasil, incluindo Hapvida e Kora. Em Alagoas, a Rede D’Or, atual gestora do Hospital Memorial Arthur Ramos (HMAR), decidiu rescindir o contrato com a Unimed Maceió, alegando inadimplência por parte da operadora de planos.
Em resposta, a Unimed afirmou que está comprometida em manter a qualidade médico-hospitalar e que está adotando medidas urgentes para resolver a situação.
No entanto, mesmo com a alegação de priorizar o bem-estar dos usuários e frisando que não tinha interesse em terminar o contrato com o Arthur Ramos, a empresa tem seguido o padrão nacional e encerrado convênios com hospitais no interior do estado, como foi o caso do Complexo Hospitalar Manoel André e o Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca, fazendo com que os pacientes que precisam de atendimento de urgência tenham que procurar exclusivamente o Hospital Ágape, situado na rodovia AL-220.
/Com supervisão