A Polícia Civil do Paraná liberou o meia-atacante Miguelito, do América-MG, para responder em liberdade após ser acusado de injúria racial pelo atacante Allano, do Operário, durante partida válida pela Série B do Campeonato Brasileiro.
Miguelito recebeu liberdade provisória e responderá ao processo em liberdade. A investigação sobre o caso de injúria racial segue em andamento e, conforme a legislação brasileira, a pena para esse tipo de crime pode chegar a até cinco anos de reclusão.
Caberá ao Ministério Público avaliar se há elementos suficientes para oferecer denúncia, o que daria início a uma ação penal. Paralelamente, o caso também pode ser analisado na esfera esportiva, com possibilidade de denúncia por parte da Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
O caso ocorreu por volta dos 30 minutos do primeiro tempo, após uma falta a favor do time paranaense. Segundo relatos, um jogador do América teria proferido a expressão racista “preto do ***” contra Allano, do Operário. A denúncia foi confirmada pela vítima e pelo capitão da equipe paranaense, que presenciou a ofensa.
Apesar de a fala não ter sido registrada pelas imagens da transmissão oficial, os depoimentos colhidos no local foram considerados suficientes para a lavratura do flagrante.
O árbitro aplicou o protocolo antirracismo da CBF e interrompeu a partida, enquanto a Polícia Militar conduzia os envolvidos à unidade da Polícia Civil do Paraná (PCPR).
O delegado Gabriel Munhoz informou que o suspeito foi autuado em flagrante e encaminhado ao sistema penitenciário. A PCPR também solicitou acesso a imagens de outros ângulos para complementar a investigação, que deverá ser concluída nos próximos dias.
Miguelito foi revelado nas categorias de base do Santos e é uma das principais apostas da Bolívia para os próximos anos. Com a camisa da Seleção Sul-americana, disputou 22 jogos e marcou seis gols. Ele é o vice artilheiro das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.
Posicionamento da Bolívia
“A Federação Boliviana de Futebol informa ao público que tomou conhecimento da situação legal enfrentada pelo nosso jogador da seleção nacional Miguel Terceros, atualmente no Brasil, devido a uma denúncia por supostos atos de racismo ocorridos durante uma partida válida pela Segunda Divisão do futebol brasileiro.
Desde a FBF, expressamos nosso apoio institucional ao jogador neste momento difícil, reafirmando nossa confiança no respeito ao devido processo legal, ao direito à defesa e à presunção de inocência, pilares fundamentais de todo sistema de justiça.
O Eng. Fernando Costa, presidente da Federação Boliviana de Futebol, entrou em contato com a família do jogador e com seu entorno para oferecer todo o apoio e acompanhamento necessários. Da mesma forma, manteve contato com o representante do atleta para coordenar as ações legais cabíveis e, nas próximas horas, estabelecerá comunicação com o Consulado Boliviano no Brasil e com as autoridades competentes da Confederação Brasileira de Futebol.
Como entidade máxima do futebol boliviano, reafirmamos nosso firme compromisso com a luta contra toda forma de discriminação, racismo ou violência, tanto dentro quanto fora dos campos de jogo, em consonância com os princípios promovidos pela CONMEBOL, pela FIFA e por nossa normativa interna.
Reiteramos nosso acompanhamento institucional ao jogador, na expectativa de que os fatos sejam esclarecidos conforme a lei”.
Posicionamento do atacante Allano
“Venho, por meio desta nota, me manifestar sobre o episódio lamentável de injúria racial que sofri durante a partida entre Operário e América Mineiro, pelo Campeonato Brasileiro da Série B.
Infelizmente, mais uma vez, o racismo mostrou sua face cruel dentro de um espaço que deveria ser de celebração, respeito e igualdade. Ser ofendido pela cor da minha pele é algo doloroso, revoltante e, acima de tudo, inaceitável.
Não vou me calar. Não por mim apenas, mas por todos os que já passaram por isso e por aqueles que ainda lutam para que esse tipo de violência acabe de vez. O futebol, como a sociedade, precisa dizer basta ao racismo. Precisamos de justiça, responsabilidade e, sobretudo, empatia.
Agradeço ao Operário pelo apoio, aos meus companheiros de equipe, à minha família e a todos que têm se solidarizado comigo neste momento. A luta contra o racismo é de todos nós, e ela não vai parar enquanto houver injustiça”.
/Lance