O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), o JHC, que há meses ensaia deixar o PL de Jair Bolsonaro e migrar para um partido da base governista, decidiu ajustar os planos e trocar de destino. Se há até alguns meses ele tinha como meta se filiar ao PSD de Gilberto Kassab, agora está em conversas avançadas para retornar ao PSB de João Campos.
JHC foi reeleito em 2024 – com 83,25% dos votos válidos –, com o apoio de Bolsonaro e uma verba de R$ 6,2 milhões do PL, mas agora está de olho nos recursos do governo Lula e na disputa por uma das vagas em aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde tenta emplacar a tia, a procuradora Maria Marluce Caldas Bezerra, do Ministério Público de Alagoas.
“É muito provável que o JHC venha para o PSB”, diz um dirigente da cúpula do partido ouvido reservadamente pelo blog, sem cravar a data.
Maria Marluce é uma espécie de “segunda mãe” para o prefeito, que aparentemente está disposto a fazer de tudo para emplacar a tia na Corte Superior, em meio a uma acirrada disputa nos bastidores marcada por lobby de padrinhos, vetos e pressão política.
A lista tríplice para a vaga do STJ reservada a representante do Ministério Público foi enviada em outubro do ano passado ao presidente Lula, que até agora não decidiu quem vai indicar.
Nas conversas de bastidores, Lula deixou claro que não nomearia para uma vaga tão estratégica alguém apadrinhado pela oposição, daí o movimento de saída de JHC do PL – que ele tem negado em público por medo da reação do bolsonarismo, mas que é confirmado tanto por fontes dos partidos envolvidos na negociação como por auxiliares do presidente no Palácio do Planalto.
Ao longo dos últimos meses, o prefeito – adversário histórico do clã Calheiros no Estado – manteve conversas reservadas com o PSD de Gilberto Kassab para migrar de partido, o que por meses foi tido internamente como favas contadas.
Reviravolta
Mas uma série de fatores provocaram uma reviravolta nos bastidores que fizeram a solução via PSB se tornar a mais viável.
O principal foi uma articulação do governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB) e do clã Calheiros para ocupar o espaço que o rival JHC hesitava em assumir. Os três trabalharam pela migração do deputado federal Luciano Amaral – primo de Dantas – do PV para o PSD, concretizada no último dia 7 em cerimônia prestigiada em Brasília por Kassab, Dantas e pelo clã Calheiros. Com isso, forjaram uma aliança entre o PSD e MDB para as próximas eleições – e inviabilizaram a filiação de JHC no partido.
Assim, Kassab terá pela primeira vez em Alagoas um deputado federal do PSD. Considerado forte candidato à reeleição, Amaral foi o terceiro candidato a deputado mais votado em Alagoas nas eleições de 2022 – obteve 101,5 mil votos.
“Não é que os Calheiros e Paulo Dantas barraram a ida do JHC para o PSD. Na verdade, eles conseguiram impedir”, resume um cacique do PSD que acompanhou de perto a negociação nos bastidores.
Além disso, Kassab já avisou que o seu partido deverá liderar a centro-direita em uma eventual disputa contra a reeleição de Lula no ano que vem, mesmo o PSD contando com três ministérios na administração petista – Pesca, Minas e Energia e Agricultura.
Dessa forma, a migração de JHC para o PSB, aliado histórico dos petistas, se tornou um caminho mais seguro para atraí-lo para a base aliada. O movimento conta com o apoio do prefeito de Recife, João Campos, que assume o comando da sigla no fim deste mês e já declarou apoio à reeleição de Lula.
Maceió foi a única capital nordestina em que Bolsonaro derrotou Lula nas eleições presidenciais de 2022 – 57,18% a 42,82%.
As movimentações de JHC, no entanto, são vistas com desconfiança por alguns dirigentes da cúpula do PSB. Esses relembram que, em plenas eleições presidenciais de 2022, o prefeito largou o PSB para comunicar a migração para o PL de Bolsonaro – uma das razões para que os integrantes locais do partido tenham resistido a aceitá-lo de volta quando houve as primeiras conversas nesse sentido.
O anúncio, aliás, foi feito em pleno Palácio da Alvorada, em Brasília, ao lado de Bolsonaro, entre o primeiro e o segundo turno.
“A palavra dele não vale nada. Se ele já saiu uma vez do PSB, quem garante que não vai sair de novo depois que a tia for indicada?”, questiona um integrante do PSB ouvido em caráter reservado.
No PL, as tratativas são vistas como um sinal de ingratidão do prefeito de Maceió, já que saíram dos cofres da legenda R$ 6,2 milhões dos R$ 7,2 milhões gastos por sua campanha eleitoral à prefeitura, no ano passado.
Ao anunciar a filiação ao PL em outubro de 2022, JHC disse: “Pensamos um Brasil que seja menos burocrático, disruptivo e que tenha o governo como indutor de políticas públicas, que possa gerar suas próprias oportunidades. Então, nós estamos enxergando isso. E quem não tem medo de trabalho, quem tem capacidade de visão, tem espaço no governo do presidente Jair Bolsonaro.”
O prefeito, como se vê, não gosta de perder oportunidades.
/O Globo