Isadora Noia*
Em entrevista ao videocast “UOL Líderes”, nesta terça-feira (29), o presidente da Braskem, Roberto Ramos, afirmou que a empresa não irá mais explorar sal, nem se envolver em atividades de mineração. Segundo ele, a mineração que causou o afundamento do solo em bairros de Maceió “não tinha nada a ver” com a atividade petroquímica da empresa.
“Nós não vamos mais explorar sal. Nós fechamos as minas e nunca mais vamos nos envolver nessa atividade de mineração, que era uma atividade que, na verdade, não tinha nada a ver com a nossa atividade petroquímica”, afirmou Roberto.
Segundo laudos do Serviço Geológico do Brasil, a exploração de sal-gema em Alagoas foi responsável pela instabilidade do solo em bairros de Maceió como Bebedouro, Bom Parto, Mutange, Pinheiro, e parte do Farol, o que provocou a migração forçada de milhares de moradores e foi considerado o maior desastre ambiental urbano do mundo.
De acordo com Roberto Ramos, a decisão de suspender a extração ocorreu em 2021, quando ficou claro para a empresa o impacto da mineração no afundamento do solo nos bairros da capital.
“Quando aconteceram os afundamentos, quando ficou claro que, na verdade, a razão era de alguma forma ligada à exploração das minas, a Braskem parou de explorar as minas e, portanto, nunca mais vai se envolver nisso. Isso que aconteceu não vai se repetir”, explicou ele.
Até hoje, moradores das comunidades Flexais de Cima e de Baixo, localizadas entre os bairros afetados, reivindicam seus direitos e a busca pela inclusão nos programas de compensação. A população afirma viver isolada e sem serviços básicos.
Ainda de acordo com o presidente da Braskem, a empresa iniciou o preenchimento das cavernas abertas. Esse processo está sendo feito com areia e água e deve levar cerca de 10 anos para ser concluído.
“Não pode ser feito rapidinho. Porque, se você enche uma caverna aqui e não enche essa de cá, a pressão lateral pode desestabilizar a caverna de cá. A gente imagina que tem pelo menos dez anos pela frente”, finalizou o presidente.
No entanto, o processo de reparação com as pessoas afetadas está longe de terminar. Diversas famílias ainda seguem na luta por uma indenização justa que possa compensar os danos e perdas materiais.
Moradores dos Flexais cobram Justiça em audiência no TRF5
Moradores da comunidade dos Flexais viajaram até Recife nesta terça-feira (29) para acompanhar uma audiência decisiva no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), que trata da Ação Civil Pública movida pela Defensoria Pública de Alagoas contra a Braskem.
O processo cobra reparação integral às famílias dos Flexais e Marquês de Abrantes, historicamente marginalizadas nas negociações de indenização e realocação conduzidas pela mineradora.
Representantes do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) participaram da audiência ao lado de moradores diretamente atingidos. Desde 2018, mais de 60 mil pessoas já foram removidas de suas casas em Maceió. Nos Flexais, às margens da Lagoa Mundaú, muitas ainda vivem em situação de insegurança e abandono.
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Vítimas da Braskem nos Flexais viajam para Recife em busca de justiça
/Estagiária sob supervisão