Por Maurício Sarmento
A cada dia se torna mais evidente que a chamada requalificação ou revitalização dos Flexais não representa melhoria, modernização ou cuidado com a população. Muito pelo contrário: ela tem transformado o território em um ambiente insalubre, inseguro e emocionalmente exaustivo, onde a vida cotidiana se deteriora e a saúde das famílias é colocada em risco.
E o pior: essa intervenção acontece numa área que TODOS os estudos técnicos classificam como de risco, onde a permanência de moradores contraria recomendações de especialistas e onde investir recursos públicos se mostra desnecessário, inadequado e incoerente com a realidade do território.
Poeira constante, casas sujas e doenças respiratórias
As obras têm produzido um volume de poeira que invade casas, estabelecimentos e vias. O ar se tornou denso, quase irrespirável. Essa “nuvem permanente” tem provocado crises de pieira, alergias, tosse e dificuldades respiratórias, especialmente em idosos, crianças e pessoas com comorbidades.
A população vive com janelas fechadas, pano na boca, e a limpeza se tornou uma tarefa inútil: 30 minutos depois, tudo está coberto de poeira novamente. Viver assim não é revitalização. É agressão.
Pulverização mecânica de inseticida: um novo terror diário
Como se não bastasse a poeira, a comunidade também tem sofrido com a pulverização mecânica de inseticida, realizada sem aviso adequado, sem protocolo transparente e sem garantia de segurança. O cheiro é forte, incômodo, e muitos moradores relatam dor de cabeça, irritação nos olhos, náuseas e crises respiratórias após a passagem dos veículos que espalham o produto pelo ar.
Essa prática, somada à poeira das obras, cria um ambiente químico e tóxico no qual ninguém consegue viver com tranquilidade. O território virou uma mistura de pó e veneno.
Barulho incessante e violação do direito ao descanso
As máquinas não param. Mesmo aos sábados dias em que a comunidade deveria descansar o barulho de tratores, britadeiras e caminhões toma conta do território. Não há silêncio, não há sossego, não há paz.
Esse ritmo de obras desrespeita a vida, a saúde mental e os limites humanos.
Risco de acidentes e circulação caótica
Com maquinário pesado circulando a todo instante, vias estreitas interditadas e trabalhadores se misturando com moradores, os Flexais se transformaram em um canteiro de obras perigoso, sem controle de tráfego, sem rotas seguras e com altíssimo potencial de acidentes.
O transporte público não consegue completar sua rota devido às interdições, obrigando trabalhadores e estudantes a caminharem longas distâncias ou a perderem compromissos.
Dignidade ferida: casas sujas e impossibilidade de receber visitas
As famílias relatam que já não conseguem manter suas casas limpas nem receber visitas. A poeira invade tudo: roupa lavada, móveis, comida, água e isso compromete a dignidade doméstica.
O lar, que deveria ser lugar de acolhimento, tornou-se um espaço de incômodo permanente.
O ponto central: a comunidade dos Flexais NÃO quer regularização. Quer sair.
É fundamental registrar uma verdade que precisa ser dita com todas as letras: A comunidade dos Flexais não quer revitalização. Não quer requalificação. Quer realocação.
Todos os estudos independentes geológicos, geotécnicos, ambientais apontam o óbvio: os Flexais são uma área de risco e a permanência das famílias é insegura.
Diante disso, insistir em obras de revitalização é jogar dinheiro público em um território que não oferece garantias de estabilidade e que, mais cedo ou mais tarde, pode enfrentar novos episódios de subsidência e instabilidade do solo.
O que as famílias querem é o direito de sair com dignidade, com indenização justa, com recomposição de suas vidas, longe de um cenário que só traz medo, doenças e sofrimento.
A incoerência da gestão pública
Enquanto os estudos confirmam risco, a prefeitura realiza obras caras, confusas e mal planejadas, insistindo em “embelezar” um território que deveria estar sendo tratado como zona de atenção, evacuação planejada e reparação integral.
É incoerente, é irresponsável e é cruel.
O que está em jogo
Não se trata apenas de poeira, inseticida ou barulho. Trata-se de vidas.
Trata-se de saúde, segurança, dignidade e respeito.
A única revitalização aceitável, neste momento, é aquela que revitaliza o direito das pessoas de reconstruírem suas vidas em outro lugar, sem adoecer, sem sofrer e sem serem tratadas como parte de um experimento urbano fadado ao fracasso.
Os Flexais já deram seu recado. Agora é a vez do poder público ouvir e agir conforme a realidade, e não conforme discursos.















