Dois oficiais de Justiça estiveram no Banco Master, em São Paulo, à procura do liquidante da instituição, Eduardo Félix Bianchini, antes do feriado do Natal, alimentando a expectativa de que ele seja intimado para prestar esclarecimentos nos próximos dias.
Servidor aposentado do Banco Central e escolhido pelo regulador para cuidar da liquidação do banco de Daniel Vorcaro, Bianchini passou o Natal com a família fora de São Paulo e não estava no escritório durante a visita dos oficiais.
Bianchini se transformou em alvo da defesa de Vorcaro, que tenta, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU), buscar a anulação da liquidação.
Com acesso aos dados do Master, o trabalho do liquidante vai mostrar, quando concluído, todos os contratos e pagamentos feitos pelo banco a prestadores de serviço, inclusive a advogados que trabalharam na defesa da instituição.
O Master contratou o escritório de familiares do ministro Alexandre de Moraes, do STF, por R$ 3,6 milhões mensais para auxiliar na defesa dos interesses da instituição, de acordo com o jornal O Globo.
O risco de Bianchini ser chamado a dar esclarecimentos no imbróglio jurídico em torno da liquidação entrou no radar depois que a defesa do Master acusou o BC de ter usado o liquidante para obter informações do banco liquidado.
A informação consta em petição encaminhada ao ministro Jhonatan de Jesus, do TCU, como mostrou uma reportagem do portal Metrópoles.
O ministro Dias Toffoli, do STF, decidiu fazer uma acareação entre Vorcaro e Paulo Henrique Costa, ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), com a presença do diretor de fiscalização do BC, Ailton de Aquino Santos. A acareação está marcada para 30 de dezembro.
Procurado, Toffoli negou, por meio da sua assessoria, que tenha partido dele o envio de oficiais de Justiça para intimar o liquidante do Master. O ministro informou que, neste momento, estão mantidos apenas os três nomes já divulgados pelo STF para a acareação.
O ministro Jhonatan de Jesus também tem colocado pressão em uma ação que tem restringido a atuação dos próprios técnicos da Auditoria Especializada em Bancos Públicos e Reguladores Financeiros (Audbancos), unidade do TCU responsável por fiscalizar bancos públicos e instituições financeiras no Brasil, segundo relatos de dois servidores do tribunal ouvidos pela reportagem.
Jesus determinou ao BC que se manifeste sobre supostos indícios de precipitação na liquidação do Master. A assessoria do TCU não foi encontrada neste domingo (28) e não retornou um pedido de comentários enviado por email. O tribunal colocou em sigilo o processo que analisa uma possível omissão do BC em operações do Master.
A reportagem ouviu um técnico da velha guarda do BC, já aposentado, com larga experiência em liquidação de bancos sobre o caso Master. Segundo ele, uma eventual interferência do STF e da corte de contas no trabalho do liquidante seria uma ação sem precedentes. O ex-servidor, que trabalhou nos casos mais ruidosos de quebra de bancos, vê por trás dessas movimentações uma tentativa de intimidação do trabalho de liquidação do Master.
O ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo avalia que TCU e STF têm pouca noção do que estão fazendo nessa movimentação envolvendo o Master. “Eu nunca tinha visto. O que está sendo pedido são coisas que não têm sentido”, disse. Segundo ele, o BC tem todo o poder legal para fazer a liquidação.
Para ele, a fraude do banco de Vorcaro foi tão grande que não há como ser contestada. “Foi uma fraude gigante. Não foi decisão de um diretor, mas de todo um colegiado a partir de um volume de documentação muito robusto.”
Procurado pela reportagem, o advogado Walfrido Warde, que atua na defesa de Vorcaro, respondeu que está fora do Brasil e que auxiliares entrariam em contato para responder aos questionamentos. Até a publicação desta reportagem não houve retorno dos advogados ao pedido de informações.
/Valor Globo













