O acordo extrajudicial firmado entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a usina Utinga Leão para assegurar o pagamento de R$ 7 milhões aos trabalhadores até agora não saiu do papel. Enquanto o proprietário da indústria, Eduardo Queiroz Monteiro, vive uma vida de marajá, mais de 1000 famílias de trabalhadores enfrentam necessidades básicas.
Lágrimas, choro e desespero. Esse foi o cenário que a reportagem da Folha de Alagoas encontrou em uma das casas de um dos trabalhadores da Utinga. “Hoje é o sexto dia que coloco um punhado de arroz no fogo para cinco pessoas comerem. É desumano o que estão fazendo conosco”, destacou o trabalhador, que preferiu não se identificar temendo sofrer mais represálias.
Outra moradora contou que as pessoas que estiveram na reunião no MPT foram demitidas e outras sofrem constantes ameaças, por superiores, para não relatarem aos órgãos competentes e muito menos para imprensa o que estão vivenciando. Vale ressaltar que ainda há débitos de 2018 da empresa com trabalhadores. “Valores que foram divididos até hoje não foram honrados”, revela uma mãe em prantos.
Quem trabalhou na safra passada não recebeu. A reportagem da Folha também apurou que não há perspectiva para nova moagem, o que deixa a situação ainda mais crítica.
O grupo Eduardo Queiroz segue gozando de um patrimônio milionário e fazendo o povo alagoano sofrer.
Solidariedade
Pessoas de Maceió e Rio Largo estão se organizando numa campanha para recolher donativos para as famílias da Utinga Leão.
Os pontos de entrega de alimentos, material de limpeza e outros mantimentos de uso básico podem ser deixados nos seguintes locais:
– Horti Fruti Dona Pimenta – Avenida Presidente Getúlio Vargas, n. 594, Serraria, Maceió/Alagoas.
– Rádio Correio e CBN – Rua Pedro Oliveira Rocha, n. 784, Farol, Maceió/Alagoas.
– Atracomp – Rua Verador Galba Souza n 119, Lourenço de Albuquerque. Rio Largo/Alagoas.
Um histórico criminoso
O empresário e investidor Eduardo Queiroz Monteiro, dono do grupo EQM – que entre outras empresas possui fazendas e o jornal Folha de Pernambuco – foi condenado pela Justiça Federal no Recife a nove anos de prisão pela prática de crime de gestão fraudulenta. Ele é irmão do senador Armando Monteiro.
Entre 1990 e 1995, o então Diretor Superintendente do Banco Mercantil, Eduardo de Queiroz Monteiro, de acordo com a denúncia, liderou um esquema de fraudes dentro do Banco em que além do desvio e apropriação indevida de dinheiro, os envolvidos também passavam falsas informações contábeis ao Banco Central, gerando prejuízo para o BACEN e causando intervenção no Banco Mercantil.
Nesse esquema, os correntistas também foram prejudicados. O dinheiro que deveria ser depositado em contas correntes na verdade era aplicado em CDBs sem consentimento dos correntistas.
Quando a intervenção ocorreu (11/08/1995), mais de R$ 4 milhões não estavam realmente no Fundo Mercantil de Renda Fixa de Curto Prazo, o que ajudou na formação de um caixa ilegal.
Ainda de acordo com os autos do processo, foram realizados também empréstimos falsos, conferidos a funcionários mas que na verdade eram destinados ao então Diretor, em um total de R$ R$3.861.313,60.
No processo, a Juíza Federal responsável pelo caso cita que a razão da prática dos delitos, ao que tudo indica, foi a ganância e a vontade de lucro fácil. Acrescenta também que os envolvidos demonstraram inclinação evidente à prática de crimes.Além do ex-diretor, também foram condenados o ex diretor financeiro Antônio Dourado Cavalcanti Filho, condenado a oito anos em regime fechado, e Manoel Balbino de Lima Filho, condenado a seis anos e oito meses de reclusão.
Eduardo Queiroz, esse é o homem que faz crianças chorarem de fome na usina Utinga Leão!