Eu não estou preparada para perder meus ídolos. Ver você indo embora, assim, silenciosamente, Gal, dói estupidamente porque parece que eu tô me despedindo de um pedaço da minha identidade, e o meu choro é também porque seu canto me faz sentir que “isso é também quem eu sou”. Eu era criança e te ouvia, fui uma adolescente que te ouvia e estou aqui, na roda viva da minha vida, passando os dias com você cantando ao fundo, como trilha sonora. Sigo te ouvindo e respirando fundo como se fosse sempre a primeira vez.
É pela arte que a gente acaba entrando em um espiral de sentimentos e se resguarda um tanto da realidade. Eu não gostaria de sair desse lugar quentinho e confortável, que abraça a minha história e afaga as minhas dores. Ser sugada de volta para o mundo real sem a sua presença, me deixa inquieta e impaciente. Eu sei que tudo acaba, mas já? Eu preciso saber de você, Maria da Graça, porque não sei quem vai dizer “eu te amo” como você. Ninguém vai. Agora é preciso estar atento e forte, apreciar o ciclo das coisas e aceitar a imprevisibilidade de tudo e isso me deixa tão à flor da pele, que sinto dificuldade de elaborar inclusive meu choro. Não é fácil ver alguém partir, nunca é. Mas dessa vez foi forte demais, e eu, que odeio chorar na frente das pessoas, fui chorar no banheiro, debaixo do chuveiro, o único lugar possível para lavar as dores inevitáveis, e agora estou aqui, sozinha, sentindo fisgadas em meu coração, que bate descompassadamente, errando as batidas, como quem sente falta de um som que o guie. Uma voz, a sua voz. Essa voz que merece ser ouvida todo santo dia.
“por isso uma força me leva a cantar
por isso essa força estranha
por isso é que eu canto, não posso parar
por isso essa voz, tamanha”
Então não para agora. Fica, Gal. Todos os aplausos do mundo são para você, Maria da Graça Costa Penna Burgos. Te amo, Gal, Gau, Gracinha, a Gaúcha de Gil, Galzinha. Tu é tão bonita, tão incrivelmente bonita, capaz de deixar completamente em posição de total entrega e inundar a alma até do maior dos caretas. De perto ninguém é mesmo normal, né? E em algum lugar além daqui continuarei te dizendo sim, e sim, e sim, porque não sentir a sua presença musical aqui comigo, é simplesmente impossível. Na sua Bahia foi decretado luto de três dias e isso é tão pouco, Gal. Talvez algumas de nossas luzes tenham ido embora com você. Lidaremos com isso, que outra opção nós temos? Tom Zé é quem sempre esteve certo mesmo. Não há nenhuma possibilidade de alguém te conhecer e não ser completamente apaixonado por você. Quais eram os seus planos, Gal? Me fala, só mais uma vez, com tua voz estrondosa de veludo, como vai ser ficar aqui sem você. Ah, minha grande, ah, minha pequena, ah, minha grande obsessão, não temos tempo de temer a morte, o fim é inevitável, então te ouvirei falar do amor sem cansar, sem rodeios, meu amor, tudo em volta está deserto. Sinto saudade. Releve o meu pranto, eu tô te ouvindo na vitrola. Até a próxima, tigresa!
Me encontre também: