Leonardo Ferreira
A falta de diálogo e a imposição da gestão municipal têm tirado o sossego de moradores que serão impactados pela desapropriação de até 40 casas no bairro do Antares, visando à construção de uma via de ligação entre duas avenidas principais da capital: a Durval de Góes Monteiro e a Menino Marcelo.
Pegos de surpresa e sem vontade de deixar o bairro, eles pensam para onde terão que ir muito em breve. Aliás, reconhecem que Maceió vive um caos no trânsito de modo geral e precisa de novas opções de via, o que é de conhecimento geral, mas a intransigência em discutir o tema machuca.
Mesmo com a apresentação de uma proposta alternativa, que provocaria a desapropriação de apenas dois galpões comerciais, a Prefeitura de Maceió se mostra implacável com o seu projeto inicial, inclusive, nessa quarta-feira (8), já enviou fiscais para avaliar dezenas de imóveis.
A expectativa, segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), é de 23 residências desapropriadas. No entanto, um estudo do professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Dilson Ferreira, aponta, na verdade, para 40 famílias afetadas.
Dilson apresentou o plano na audiência pública realizada na Câmara de Vereadores, citando que a modificação traria diversos benefícios: uso de vias existentes e pavimentadas, menor desapropriação, redução nos custos, baixo impacto ambiental e social no bairro e diminuição no tempo de obra.

Esse galpões, porém, pertencem, de acordo com apuração da Folha, a um empresário de renome em Maceió, logo seria um embate mais penoso para a gestão municipal do que contra cidadãos sem tanto poder econômico.
Desrespeito
A audiência ficou marcada por bate-boca e reclamação por parte dos moradores, que chegaram a sair do plenário enquanto o representante da prefeitura falava. “A prefeitura não tem nenhuma obrigação de avisar a ninguém”, disse o servidor da Seminfra aos presentes na sessão.
Os afetados pretendem entrar na Justiça a fim de embargar a obra, já que não são ouvidos para discutir uma alternativa. Vale citar que os recursos dessa nova via sairão da indenização paga pela Braskem. A gestão municipal também foi criticada por sua postura recorrente de desprezar a opinião popular.
“A prefeitura funciona desse jeito, quer seja com o Antares, quer seja com o Vera Arruda…é o modus operandi: trabalha em segredo, com um falso discurso de que tem competência técnica e se pronuncia no Instagram”, opinou Regina Dulce, professora e coordenadora-geral do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana de Maceió.
O encontro foi de iniciativa da vereadora Teca Nelma (PSD), que também foi contra a posição da prefeitura. “Eu vou ter que discordar de algumas coisas…obrigação de avisar eu compreendo que ele tem quando se coloca como prefeito que será participativo e será representante da sociedade”, disse.
A vereadora, de acordo com sua assessoria, recolheu a assinatura dos presentes e protocolou ofício à Seminfra solicitando todos os estudos que embasaram o polêmico projeto.

Revolta
Um dos afetados é o corretor de imóveis Jô Andrade, que mora há décadas no bairro e construiu, com muito suor, sua sonhada residência. Ele encabeça a resistência dos moradores para evitar a desapropriação.
“Estamos atônitos com tudo isso que está acontecendo. De uma hora para outra, todo mundo perdeu a paz, se vendo obrigado a ver suas casas demolidas. Tudo isso por um capricho. Como o professor disse: existem alternativas comprovadas, ruas com mais capacidade para tráfego”, desabafa Jô.
Como visto na foto acima, todas aquelas casas no trajeto da nova avenida precisarão ser demolidas, enquanto outros vizinhos, mesmo que sem a necessidade de sair, passarão a conviver com o barulho intenso de carros, ao contrário da atual situação de sossego que escolheram para viver.
“Construí minha casa tijolo a tijolo, vim morar num local que escolhi a dedo, porque quando cheguei aqui, não tinha nada, calmo, parecia interior. Uma paz, uma tranquilidade, mas, de repente, você se vê com uma avenida mão e contramão passando na porta. Isso não se faz”, completa Jô.
Resposta
A reportagem procurou a Seminfra. Em nota, foi dito que a obra vai melhorar de forma considerável a mobilidade urbana na região. Esclarece também que foram estudadas todas as alternativas e a escolhida é a menos onerosa em termos de desapropriações.
“Ao todo, devem ser desapropriadas 23 áreas, sendo 15 residências. O órgão acrescenta que tem realizado reuniões periódicas com moradores e lideranças locais para avaliar a opção mais justa de ressarcimento”, completa o posicionamento.