Jorge Gonzaga, morador do bairro do Pinheiro, em Maceió, que foi afetado pela mineração de sal-gema da Braskem, fez um desabafo em uma rádio local sobre a situação que vive há anos. Ele acusou a empresa de expulsar sua família de sua casa, de oferecer uma indenização irrisória e de causar a morte de mais de mil e quinhentas pessoas na região.
Ele também criticou o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, conhecido como JHC, por ter feito um acordo milionário com a Braskem e por ter mentido para os eleitores.
Resistência e Coação
Jorge contou que morava no Pinheiro há 27 anos e resistiu até o último momento para sair de sua casa, que tinha comprado por meio milhão de reais. Ele disse que a Braskem o pressionou a aceitar uma indenização de 180 mil reais, ou levasse o caso à justiça. Ele afirmou que a empresa cortava energia, água e luz do bairro para forçar os moradores a saírem.
“Eu saí do bairro do Pinheiro há três meses, não saí, a Braskem expulsou minha família do bairro do Pinheiro. Nas negociações com minha família, eles diziam o seguinte: se o senhor quiser receber isso, se não quiser, leve à justiça”, disse Jorge.
Pedido de CPI
Ele também revelou que foi um dos que pediram a instalação de uma CPI para investigar a Braskem, mas enfrentou resistência de políticos e autoridades. Ele disse que sabia que o prefeito de Maceió tinha vendido os bairros para a Braskem e queria saber quem pegou o dinheiro da empresa.
“Eu nunca desisti da CPI, vocês sabem por quê? Porque eu sabia que havia muita coisa envolvida nesse acordo de sangue que JHC fez com a Braskem. Essa CPI vai dizer quem pegou o dinheiro da Braskem. E vocês vão se surpreender, viu? Tem gente que pegou muito dinheiro da Braskem que vocês nem imaginam”, afirmou Jorge.
Apelo aos Políticos
Ele ainda fez um apelo aos políticos alagoanos, como o senador Renan Calheiros e o deputado Arthur Lira, para que se unissem em prol do povo e fizessem uma trégua humanitária. Ele disse que queria paz e que queria que o prefeito de Maceió pedisse desculpas à população.
“Senador Renan, deputado Arthur Lira, unam-se, vamos esquecer o palanque, o palanque é depois, queremos vocês unidos, porque Renan Calheiros, você é muito forte em Brasília, é o segundo ou terceiro homem mais poderoso do Brasil, o deputado Arthur Lira, você é muito forte, presidente da Câmara, unam-se em prol do povo como desagravo às mais de mil e quinhentas pessoas que já morreram para tentarmos dar algo a esse povo, porque a Braskem é assassina, ela humilha, ela enterra viva, mas estamos aqui”, pediu Jorge.
Traição Política
Jorge também lembrou que em 2020, o prefeito de Maceió esteve no bairro do Pinheiro em cima de um trio elétrico fazendo campanha para prefeito de Maceió e prometendo que daria total apoio aos moradores dos bairros afetados. Ele disse que se sentiu traído e enganado pelo político.
“Quando eu o chamo de mentiroso, que ele é traidor, quem está dizendo sou eu. Eu fui ao comício dele em 2020 e o acordo que ele fez conosco, com os moradores, é que se fosse o prefeito de Maceió, colocaria a Braskem para correr da cidade. E ele foi prefeito, está prefeito e foi a Braskem quem colocou o povo para correr dos bairros. Então, JHC, ainda dá tempo de você fazer um vídeo e pedir desculpas à população porque todo ser humano é passível de erro. O que nós não podemos aceitar é que você tenha a cara de pau, o cinismo de vender os bairros num acordo milionário com a Braskem. Aí eu pergunto, JHC, sem politicagem, cadê o dinheiro do povo, irmão, que está com você?”, questionou Jorge.
Denúncias Contra a Braskem e a Caixa Seguradora
Jorge também fez denúncias contra a Braskem e a Caixa Seguradora da Caixa Econômica Federal. Ele disse que a Braskem não pagou indenização aos moradores, mas sim comprou as casas com valores definidos por ela mesma, sem considerar o valor de mercado. Ele também disse que a Caixa Seguradora pagou valores muito baixos pelo seguro habitacional e que priorizou o pagamento do saldo devedor do financiamento.
Coação e Desrespeito aos Direitos dos Moradores
Jorge afirmou que a Braskem não respeitou os direitos dos moradores e que os coagiu a aceitar os valores que ela quis pagar. Ele disse que muitas famílias perderam suas casas e seus bens por causa da mineração e que não receberam uma compensação justa.
“A Braskem não pagou indenização a nenhum morador, ela comprou as casas dos moradores pelo preço que ela quis pagar e como quis pagar. Ou vocês aceitam, ou vocês procuram a justiça, foi o que a Braskem disse a todos os moradores”, denunciou Jorge.
Críticas à Caixa Seguradora
Jorge criticou a atuação da Caixa Seguradora, alegando que ela fez um acordo com a Braskem, não com os moradores. Segundo ele, a Caixa Seguradora pagou o seguro habitacional com base no saldo devedor do financiamento, não no valor de mercado das casas. Ele afirmou que muitas famílias receberam valores baixos e se sentiram prejudicadas.
Ele questionou: “Onde está a Caixa Seguradora da Caixa Econômica Federal? Muitas famílias morreram porque tinham feito o financiamento de suas casas e nesse financiamento colocaram o seguro obrigatoriamente. E na hora de fazer o acordo, que não teve acordo, o acordo foi da Braskem com a Caixa Seguradora da Caixa Econômica Federal.”
Jorge disse que muitas vezes, os moradores nem sabiam que tinham dinheiro na conta, mas o que sobrava do acordo da Braskem com a Caixa Econômica Federal era depositado na conta do povo. Ele questionou o cálculo usado para pagar o financiamento com juros e correção monetária, e criticou o valor recebido do seguro da Caixa Econômica Federal.
Pedido de Apuração
Ele considerou a situação grave e pediu ao senador Renan Calheiros que levasse para a CPI a Caixa Econômica Federal e a Caixa Econômica Seguradora, para explicar como foi esse acordo que ela fez com a Braskem. Ele concluiu dizendo: “A Caixa Econômica Federal primeiro se paga e aos outros, o que sobrar e como quiser pagar”.
/Assessoria