Enquanto acerta a sua saída do PL, partido de Jair Bolsonaro, o prefeito reeleito de Maceió (AL), João Henrique Caldas, mantém conversas reservadas com o PSB, partido da base do governo Lula. O prefeito se encontrou nas últimas semanas com lideranças do partido para discutir uma eventual migração.
Mas, a vingar a articulação conduzida em sigilo pelo próprio político, o caminho mais provável é ele ir para o PSD de Gilberto Kassab. Essa é também a solução preferida do próprio presidente da República, que já conversou com JHC sobre o tema e deu aval à movimentação.
Conforme informou o blog, JHC, que se elegeu com o apoio de Bolsonaro e verbas do PL, agora está de olho nos recursos do governo e na disputa por uma das vagas em aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde tenta emplacar a sua tia, a procuradora Maria Marluce Caldas Bezerra, do Ministério Público de Alagoas.
Maria Marluce surpreendeu o Palácio do Planalto ao figurar em outubro do ano passado na lista tríplice para a vaga reservada a representante do Ministério Público.
Mas o fato de o sobrinho-prefeito ser do PL tem no primeiro escalão da administração petista como um entrave à escolha dela, que é associada ao bolsonarismo no meio político.
A ida de JHC para um partido da base do governo ajudaria a mudar essa equação e facilitar a nomeação de Marluce, ao mesmo tempo que engrossaria a base de Lula com mais uma liderança regional que hoje está na oposição.
Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, por isso mesmo Lula prefere que JHC vá para o PSD. Seria uma forma de tentar garantir o apoio de mais gente da sigla de Kassab ao seu projeto de reeleição, já que o PSB é um aliado histórico do petista, mas o PSD possui dissidências internas e ainda não garantiu o endosso.
“Lula prefere o JHC no PSD, para ser mais um do partido fechado com ele”, diz uma fonte que acompanha de perto as movimentações nos bastidores.
O governo Lula em imagens
“A Maria Marluce fica muito forte com o acordo que estão tentando fazer em Alagoas”, diz um ministro do STJ com bom trânsito no Planalto.
Desconfiança
Outro motivo que pavimenta o caminho da ida de JHC para o PSD é a resistência interna do PSB ao retorno do prefeito de Maceió (AL) à legenda.
Isso porque, em plenas eleições presidenciais de 2022, JHC largou o PSB para comunicar a migração para o PL de Bolsonaro – o anúncio, aliás, foi feito em pleno Palácio da Alvorada, em Brasília, ao lado de Bolsonaro, entre o primeiro e o segundo turno.
Mas as tratativas de JHC com o PSB sofrem forte oposição da presidente estadual da legenda, Paula Dantas, filha do governador Paulo Dantas (MDB). Pai e filha são aliados do senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário político de JHC no tabuleiro político alagoano.
Outro ponto que tem sido destacado por dirigentes partidários é o de que JHC parece disposto a fazer de tudo para emplacar no STJ a sua tia, a quem considera uma espécie de “segunda mãe” – mas nada assegura que ele continue no partido depois de conseguir.
“A palavra dele não vale nada. Se ele já saiu uma vez do PSB, quem garante que não vai sair de novo depois que a tia for indicada?”, questiona um integrante do PSB ouvido em caráter reservado.
No PL, as tratativas são vistas como um sinal de ingratidão do prefeito de Maceió. Saíram dos cofres da legenda R$ 6,2 milhões dos R$ 7,2 milhões gastos por sua campanha eleitoral à prefeitura, no ano passado.
Tia em campanha
Enquanto o sobrinho acerta o novo partido político, a procuradora Maria Marluce tem feito uma peregrinação por gabinetes de Brasília, assim como os seus adversários na disputa – o subprocurador Carlos Frederico Santos e o procurador Sammy Barbosa Lopes, considerado hoje o seu maior concorrente na briga pela vaga. Em outubro, a equipe da coluna flagrou a procuradora nos corredores do Senado, já em busca de apoio político à sua indicação.
Segundo um integrante do governo Lula ouvido pelo blog, além das movimentações de JHC, outro fator que favorece a procuradora é o fato de ela ser a única mulher que disputa a vaga do STJ reservada a representante do Ministério Público. As duas vagas em aberto no tribunal foram ocupadas por mulheres – Laurita Vaz e Assusete Magalhães – e Lula tem sido pressionado publicamente a não baixar a representação feminina na Corte.
Procurada, a assessoria de JHC informou que o prefeito não vai se manifestar. Para quem defende um “Brasil menos burocrático” e “disruptivo”, mudar tantas vezes de partido parece não ser um problema.
/O Globo