Por Leonardo Ferreira
Operando em Maceió e mais 12 municípios da região metropolitana, a BRK Ambiental chegou em julho com a promessa de ampliar e melhorar o atendimento. Os relatos até o momento, porém, são de demora na execução de serviços e receio de que os transtornos ocasionados pela Equatorial se repitam agora no saneamento.
Segundo relatório do Procon Alagoas enviado à Folha, a BRK Ambiental já acumula 132 reclamações em apenas dois meses, contra 129 da Equatorial Energia de janeiro a agosto, campeã em registros ano passado com 593 relatos. A nova concessionária só fica atrás da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), atuante em 77 cidades até 30 de junho, que teve 227 reclamações protocoladas no órgão.
Moradores do bairro do Tabuleiro do Martins, Marcelo e o Senhor Barbosa reclamam que um vazamento na Rua Walfrido da Rocha está há meses sem resolução. “Estamos com esse vazamento por dia e noite. Água potável para todo lado num planeta que está escasso de água. Ligo pra lá e eles pedem o número do registro, mas se o problema é na rua? Ontem uma equipe veio aqui próximo fazer outro serviço e nem sequer olhou. É barril e mais barril de água, tenham pena!”, disse Barbosa.
No José Tenório, moradores também reclamam que sofrem com a falta d’água constante há cerca de 15 dias. Além disso, relatam aumento de quase 100% no valor da conta. Questionada, a BRK informou que enviou uma equipe para verificar, mas a subida no valor se deve ao aumento no consumo de água, já que a estrutura tarifária é a mesma usada pela Casal.
A população de Rio Largo é outra que vem reclamando da atuação da empresa. Sofrendo com a falta d’água por cinco dias, uma moradora desabafou: “A anterior era ruim, mas a BRK está 1000 vezes pior”. Procurada pela Folha, a empresa informou que a situação no terceiro município mais populoso do estado é em razão de uma limitação do sistema de produção de água, que ainda é operado pela Casal.
A transferência e a confusão de responsabilidades também têm marcado o início da atuação da organização. De um lado, a Casal culpa a BRK; do outro, a novata afirma que determinados trabalhos ainda pertencem à antiga operadora. Em agosto, a Prefeitura de Maceió já autuou a nova concessionária por lançamento irregular de esgoto nos bairros da Jatiúca, Centro e Prado.
A comparação com a Equatorial, conhecida por conta de cobranças abusivas e cortes indevidos, também amedronta a população de Maceió e adjacências. Os valores das tarifas de água e esgoto já seriam reajustados em 8% a partir de outubro, após autorização da Agência de Regulação de Serviços Públicos do Estado de Alagoas (Arsal). Porém, uma liminar judicial barrou temporariamente o aumento, enquanto o Procon Maceió solicitou explicações.
Nas justificativas das reclamações, a Casal citou que atendia cerca de 2 milhões de habitantes e mais de 400 mil ligações de água, ou seja, 249 registros no Procon é um número considerado baixo. Já a BRK Ambiental alegou que está respondendo todas as solicitações e parte das reclamações vem do processo de transição, enquanto a Equatorial comemorou a redução na comparação com 2020.
Histórico negativo
Atuando em vários estados e 125 municípios, o histórico da empresa não anima. No Tocantins, onde atua desde 2012, a BRK Ambiental acumula condenações por diversas irregularidades. O Procon do estado da região Norte também vem autuando a empresa por demora no atendimento. Os reajustes tarifários ainda são alvos de reclamação. Em 2019, o deputado Ricardo Ayres (PSB) ingressou com ação contra as taxas cobradas e a qualidade dos serviços ofertados à população tocantinense, por exemplo.
Privatização em mais 63 municípios
Após longo debate público – e com protestos, parte das atribuições da Casal foi concedida à BRK Ambiental, que venceu o leilão com uma oferta de R$ 2 bilhões e vai dominar os serviços em Maceió e entorno pelos próximos 35 anos. A promessa é universalizar o acesso à água e garantir que 90% dos alagoanos atendidos tenham tratamento de esgoto.
Logo após conceder à iniciativa privada a região mais lucrativa do estado, houve o início da discussão para concessão das outras unidades regionais. No último dia 17, o Estado de Alagoas, em parceria com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), lançou o edital para os bloco B (Agreste e Sertão) e bloco C (Litoral e Zona da Mata), que englobam 61 municípios, cujo leilão está previsto para 13 de dezembro.
Os vencedores serão escolhidos obviamente pela maior oferta de outorga, sendo o valor mínimo de R$ 3,3 milhões para o bloco B e de R$ 32,4 milhões para o bloco C. O leilão de Maceió atraiu altas ofertas na B3 e não deve ser diferente para assumir o controle nas mesorregiões alagoanas, apesar do poder de arrecadação menor na comparação com a capital.
Resposta Equatorial
NOTA EQUATORIAL
A Equatorial Alagoas esclarece que tem atuado intensamente para que os questionamentos sejam tratados no primeiro contato com a empresa, sem que os clientes tenham a necessidade de procurar outra instância para solucionar as suas demandas. Os frutos desses esforços já podem ser percebidos no volume de registros para a Equatorial no Procon Alagoas. Em 2020, foram registradas 593 reclamações e até 31 de agosto de 2021, apenas 129.
A Distribuidora informa ainda que acompanha periodicamente os dados registrados nos órgãos de proteção ao consumidor e que possui uma área específica para atendimento dessas solicitações. A empresa ressalta que busca tratar a todas as ocorrências, além de implementar melhorias nos processos internos a fim de evitar novas reclamações.
A Equatorial reforça que possui atendimento presencial nos 102 municípios do estado e orienta a população a procurar primeiro a distribuidora para esclarecer dúvidas e resolver suas pendências. É possível ter atendimento na comodidade do lar, 24h por dia, através da Central no telefone 0800 082 0196, pelo site al.equatorialenergia.com.br, por meio do aplicativo “Equatorial Energia” disponível gratuitamente para as plataformas Android e iOS e ainda via mensagem de texto no WhatsApp com a assistente virtual Clara no número (82) 2126-9200.