Leonardo Ferreira
Após o rompimento da mina 18 no mês de dezembro, subiu o alerta para outras duas cavidades na região do Mutange: as de números 20 e 21, que estão coladas e embaixo da Lagoa Mundaú. Neste início de 2024, várias hipóteses já foram levantadas sobre o risco de colapso semelhante.
Por isso, ainda em janeiro, a Defesa Civil Estadual cobrou a realização, em caráter de urgência, do estudo de sonar em tais poços e na área de influência da mina 18. Segundo a Braskem, o procedimento foi feito no último dia 20, cujos resultados estão sendo analisados pelos técnicos.
Os dados de campo foram enviados pela Braskem à Agência Nacional de Mineração (ANM) e à Defesa Civil Municipal, de acordo com o que foi dito à reportagem. A petroquímica, igualmente, afirmou que o volume das minas 20 e 21, mesmo que juntas, é menor que o da 18.
“Eles [dados] apontam que essas cavidades não sofreram impactos diretos decorrentes do evento da cavidade 18 até o momento. Além disso, mostram que o volume atual das cavidades 20 e 21, juntas, é de cerca de 340 mil metros cúbicos, portanto, menor do que o volume registrado na cavidade 18, que era de aproximadamente 489 mil m³, antes do evento do fim do ano passado”, esclarece.
Para tampá-los e mitigar os problemas, tais poços estão sendo preenchidos com salmoura, sob permanente monitoramento. Vale citar que recente parecer da ANM questiona as informações que a Braskem vem fornecendo sobre as medidas adotadas para fechar as 35 cavidades existentes, pois algumas não têm o devido monitoramento, assim como o solo afetado está instável e afundando.
“Não há nenhum registro atípico de sísmica ou de movimento relevante detectado pelo DGPS e demais equipamentos da rede de monitoramento na área das cavidades 20/21. Se houver qualquer movimentação atípica da cavidade, mesmo que em profundidade, o sistema detectará”, argumenta a Braskem.
A Folha perguntou a Defesa Civil Municipal quais trabalhos de monitoramento estão sendo feitos nas minas citadas e acerca do panorama atual delas. O órgão respondeu que os equipamentos para medir a movimentação do solo na região não registraram informações que levem a necessidade de alertas.
Contudo, em caso de mudanças nesse quadro, a Defesa Civil comunicará todos os órgãos competentes. “Os estudos para verificar a situação das cavidades 20/21, após rompimento da mina 18, já foram realizados e as mesmas apresentaram consequências esperadas para o tipo de situação enfrentada”, pontua.
Riscos
Professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e acompanhante de perto da problemática da Braskem em Maceió, Dílson Ferreira afirma que é provável que a cavidade 18 se junte a 20 e 21, que já se fundiram e formaram uma só.
“As cavidades estão subindo, conforme a Agência Nacional de Mineração já alertou, e a tendência natural é que sofram o mesmo tipo de acidente que ocorreu com a mina 18: colapsar e criar uma cratera, que, como é ao lado da 18, deve se juntar e, como venho dizendo, vai se formar um gigantesco lago”, chama a atenção.
No entanto, não dá para fazer qualquer previsão de tempo, segundo ele. O especialista ainda se diz preocupado com o futuro dos bairros do Mutange e Bebedouro. “Já perdemos 14 hectares de mangue que estão dentro d’água, e a porção da mina 18”, indica ele sobre o afundamento.
A outra crítica do professor é quanto à falta de dados claros à sociedade. “As informações que temos hoje são de jornalistas investigativos que vão atrás. Não temos nada oficial. Temos cinco bairros afundando”, afirma Dílson, que cita a restrição na Lagoa Mundaú, onde trechos ficaram inacessíveis.